22/10/2021
Maíra Menezes
Com pesquisas sobre Zika, hanseníase e regulação do sistema imune, três estudantes do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foram reconhecidos com o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses. A entrega da premiação ocorreu nesta sexta-feira, 15 de outubro, durante a cerimônia de encerramento da Semana da Educação Fiocruz. Promovido pela Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (VPEIC/Fiocruz), o evento contou ainda com a entrega da Medalha Virgínia Schall de Mérito Educacional e celebração dos resultados do Prêmio Capes de Tese.
A importância da defesa da educação e da ciência foi destacada na mesa de abertura, que reuniu a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado; a coordenadora-geral de Educação, Cristina Guilam; o coordenador de Articulação Política da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz, Emanuel Rodolpho Moura Batista de Oliveira; e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), Mychelle Alves Monteiro.
A presidente da Fiocruz enfatizou a relevância da mobilização em defesa da ciência, promovida por entidades científicas, no dia dos professores, contra o corte de 90% dos recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Sem essa defesa, sem reconhecimento e sem recursos que garantam essas atividades, a ideia de que a ciência e a educação são importantes não passa de blá-blá-blá. O país só pode ter um caminho da autonomia, soberania, equidade, justiça e saúde se houver, de fato, recursos para a ciência brasileira”, afirmou Nísia.
Descobertas sobre a Zika
Concedido pela VPEIC, o Prêmio Oswaldo Cruz de Teses destaca pesquisas de alta contribuição para o campo da saúde, desenvolvidas nos cursos de pós-graduação da Fiocruz e em cursos dos quais a instituição participa de forma compartilhada. As áreas contempladas são: 'Ciências Biológicas Aplicadas e Biomedicina', 'Ciências Humanas e Sociais'; 'Medicina'; e 'Saúde Coletiva'. Ao todo, nove estudantes foram agraciados na quinta edição da premiação, sendo quatro premiados e cinco ganhadores de menções honrosas [confira o resultado completo da premiação].
Vencedora da categoria ‘Ciências biológicas aplicadas e biomedicina', a doutora pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC, Jéssica Badolato Corrêa da Silva, destacou a importância da pesquisa científica para a saúde pública. “Essa premiação mostra que estamos no caminho certo, produzindo ciência de qualidade, para levar informações relevantes principalmente para as pessoas que mais precisam”, disse a biomédica.
Jéssica Badolato e Luzia Pinto agradeceram aos pacientes que contribuíram para a realização pesquisa. Foto: Reprodução
Na tese 'Avaliação da resposta imune efetora e de memória de pacientes infectados ou com histórico de infecção por DENV e ZIKV', Jéssica analisou amostras de pacientes infectados pelos vírus dengue e Zika. O estudo apontou variações da resposta imunológica nas coinfecções, ou seja, quando as duas infecções ocorrem simultaneamente. Ao avaliar mães que foram infectadas pelo Zika durante a gestação e seus filhos, o estudo também apontou que, na maioria dos casos, houve o desenvolvimento de memória imunológica, que pode proteger o organismo contra futuras infecções. Além disso, a pesquisa conseguiu identificar um fragmento de uma proteína do vírus Zika que pode ser a base para o desenvolvimento de testes sorológicos mais específicos.
O trabalho contou com a parceria fundamental dos pacientes, que cederam amostras para o estudo. “As famílias acometidas pela Zika que foram voluntárias nessa pesquisa deram uma contribuição muito importante para a ciência e para o futuro desse agravo”, salientou a orientadora do projeto e pesquisadora do Laboratório de Imunologia Viral do IOC, Luzia Maria de Oliveira Pinto. O estudo contou ainda com a coorientação do pesquisador do Laboratório de Imunoparasitologia do IOC, Josué da Costa Lima Junior.
Achado inédito em hanseníase
As duas menções honrosas da categoria ‘Ciências biológicas aplicadas e biomedicina' foram conquistadas pelos estudantes do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC Sabrina Alves dos Reis e João Ramalho Ortigão Farias.
Sabrina dos Reis e Flávio Lara lembraram desafios enfrentados pelos pós-graduandos no contexto da pandemia. Foto: Reprodução
Autora da tese ‘O papel do tecido adiposo para a imunopatologia da hanseníase’, Sabrina destacou a necessidade de resiliência dos pós-graduandos para superarem os desafios da pesquisa científica, especialmente no contexto atual. “Foi um ano de muitas perdas e muitas dúvidas. Enfrentamos negacionismo e desestímulo à ciência. Nesse momento, me sinto representando colegas que tiveram que reinventar e readaptar seu trabalho de pesquisa, mantendo a excelência, em condições tão adversas”, afirmou a bióloga.
De forma inédita, o estudo realizado por Sabrina apontou que o tecido adiposo pode ser um importante alvo da infecção pelo Mycobacterium leprae, causador da hanseníase. Orientador da pesquisa, o chefe substituto do Laboratório de Microbiologia Celular, Flávio Alves Lara lembrou que os achados da tese são resultado de pesquisas desenvolvidas por Sabrina nos últimos dez anos, desde a iniciação científica até o doutorado. “O projeto dela representa a ciência desenvolvida na nossa instituição. É um trabalho que depende de uma cadeia de colaboradores, que uma vez rompida, como vemos a possibilidade nesse momento, demora muito a ser restabelecida”, pontuou o pesquisador.
Regulação da resposta imune
Com o título ‘O papel da integrina VLA-4 em linfócitos T: possível ação reguladora sobre os processos de ativação e diferenciação’, a tese de João Ortigão avançou no conhecimento sobre processos de regulação do sistema imune que, quando perturbados patologicamente, permitem o aparecimento de doenças inflamatórias, como a distrofia muscular Duchenne e a esclerose múltipla. “O estudo indicou um papel da integrina VLA-4 [um tipo de proteína] no controle da ativação de células de defesa do tipo linfócitos T. Esse resultado abre novos horizontes para pensar formas de tratamento de doenças inflamatórias”, comentou o farmacêutico.
João Ortigão e Vinícius Cotta destacaram trabalho coletivo na pesquisa científica. Foto: Reprodução
O projeto contou com orientação do chefe do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo, Vinícius Cotta de Almeida, e coorientação do coordenador de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Fiocruz, Wilson Savino, e da pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Mariana Boroni. O papel da cooperação científica para os resultados alcançados foi destacado por Vinícius. “Vivemos constrangimentos ligados à pandemia e dificuldades de suporte a ciência. Nesse momento de festejo, podemos ver que a contraparte a essas dificuldades é o trabalho coletivo que leva à pesquisa de alto nível”, declarou o orientador.
Edição: Vinicius Ferreira